Independência ou sorte.
Em uma dessas noites em que se tenta dormir mais não se consegue, relembro todas as vezes que tentei emplacar um novo relacionamento e não consegui. Graças a uma enorme incapacidade de integrar uma pessoa dentro da minha intimidade, continuava ano após ano na solidão noturna, sem ter com quem dividir minhas angustias.
Fui criada com um senso de independência tão grande que me era impossível dividir a vida com alguém. Desta última vez, encerrei um relacionamento de quatro anos quando me vi pressionada a assumir de maneira plena nosso romance. Não que eu não me envolvesse, mas era muito difícil aceitar alguém para quem eu tivesse que dar satisfação de onde vou, como gastar, o que usar, e outras tantas coisas que me remetiam a submissão que eu vi por tantos anos, com tantas mulheres na minha família, inclusive minha mãe.
Nesses últimos quatro anos, nosso relacionamento era muito bom; divertido, maduro, correto, leal... Mas eu não conseguia entregar por completo. Por mais que estivesse apaixonada, e por que não dizer amando, sempre decidia minhas coisas sozinhas, sem consultar ninguém, nem ele, motivo de desentendimentos diversos durante todo esse tempo. No final, voltei a ser sozinha de verdade. Era a quarta vez que isso acontecia e já imaginava estar fadada a viver só.
Na minha cama, na madrugada, choro tentando entender o porquê.
Já fazia uma semana desde o término, e embora aliviada com o fim das inúmeras satisfações, sofria com a falta que ele me fazia, pura e simplesmente. Novamente minha rotina solitária se instalava, e meu celular não tocava mais como de costume nos horários marcados, para um simples oi, um carinho ou algum recado.
Viver nesse conflito não fazia mais sentido. O tempo vivido e as experiências me impelem a decidir de que lado quero estar.
Hoje, aos trinta e cinco anos, tenho várias amigas, algumas já casadas e felizes, com filhos ou querendo ter, e outras solteiras e tranquilas, vivendo em paz com a condição escolhida. Somente eu, vivendo esse dilema entre a independência e o companheirismo. E a vida me dando mais uma chance com uma pessoa bacana, e eu sentindo que desta vez uma falta enorme de tudo.
Já havia amado outras vezes, mas nunca a sensação de estar perdendo algo precioso havia ficado tão latente. Onde quero chegar? A idéia de dividir minha vida me causava o medo de me perder de mim e, ao mesmo tempo, o tempo passando e eu sempre só.
Busquei na memória várias conversas que tive com várias mulheres, e o conflito persistia porque não conseguia entender uma questão matemática. Enquanto eu relutava em dividir a vida, todas tentaram me explicar que se tratava de optar em somar.
Três horas e quinze minutos de uma noite que não acaba, está na hora de acender uma luz na escuridão. Rompendo uma enorme barreira, antes instransponível, pego no telefone e ligo. Uma voz sonolenta e assustada me atende, e me surpreendo falando:
- Oi! Sou eu. Preciso de você na minha vida. Não desista de mim.
Antes mesmo da resposta já estou em paz! O medo só pode ser superado por nós mesmos. Temos que ser a mudança que queremos ver. A resposta veio firme, com uma pergunta:
- Você tem certeza?
- Sim. Quero você aqui comigo.
Somar, dividir, subtrair e multiplicar, desta vez vou aprender as quatro operações definitivamente.
Escrever é bom demais, ler é melhor ainda!
ResponderExcluirEscrever com a parceria da alma, torna o
leitor meio cúmplice, meio sócio no négócio!
Risos....
Eu amei, e vou cobrar minha participação
nessa sociedade (rs), mergulhando na leitura.
Parabéns!
Bell