"A natureza criou o homem de tal modo que ele pode desejar tudo sem poder obter tudo". Maquiavel
Procurei me abster de textos que pudessem invocar a pensamentos políticos, porém o atual momento me fez lembrar de minhas aulas de filosofia com minha professora Sônia nos idos de 1980.
Estudante de colégio feminino, de freiras, achava que nos era ensinada a Filosofia de forma a atender sempre aos ditames religiosos das quais éramos criadas, ou seja, o pensamento não era livre como deveria.
Lembro-me de que quando estudei a obra de Maquiavel, em especial “O Príncipe”, esta foi duramente criticada pela professora, já que a máxima “O fim justifica os meios” ia contra a temática religiosa que nos era ensinada.
Simpatizei então com Maquiavel e seu raciocínio lógico, e apesar de achar realmente que não é por qualquer meio que possa alcançar os fins, por vezes julguei isso justo na obtenção de alguns propósitos para que se concluíssem determinadas ações.
Pensamento torpe, arraigado na população de modo geral, que vê seus políticos como príncipes que tirarão seus problemas maquiavelicamente, ou seja, sem se importar com a ética e a honestidade.
Passamos por um momento que precisa nos remeter à reflexão. Reflexão daquilo que queremos de forma mais complexa, não somente a índices e estatísticas satisfatórias, esta ou aquela ação e sim atitudes que denotem franqueza e humildade. O retorno do ser humano aquilo que é o seu propósito, o da solidariedade.
Em “O Príncipe”, hoje tão atual, temos uma ideologia política que se apresenta como criação de uma fantasia concreta, que atua sobre um povo disperso e aniquilado para despertar e organizar a sua vontade coletiva. Em todo o livro, Maquiavel mostra como deve ser o Príncipe para levar um povo à fundação do novo Estado, e o desenvolvimento é conduzido com rigor lógico. Na conclusão, o próprio Maquiavel faz-se povo, confunde-se com o povo, mas não com o povo real, mas o povo que Maquiavel convenceu ser o existente e sente-se identificado, ou seja, parece que tudo é uma reflexão do povo, um raciocínio interior que se manifesta na consciência popular e acaba num grito apaixonado, imediato. A paixão, de raciocínio sobre si mesma, transformando-se em entusiasmo momentâneo, fanatismo.
Enfim, muitos dos políticos de hoje, mesmo aqueles não tão letrados, baseiam-se nesta obra de Maquiavel, e buscam para si o modelo do Príncipe, a fim de transformar o povo para a forma que melhor lhe convier.
Disse Ghandhi: “Temos que ser a mudança que queremos ver”, e assim chego à conclusão que minha professora Sônia não foi tão tendenciosa às vontades do colégio religioso, nem tampouco o pensamento livre nos era tolhido. A vontade era de nos ver pensando de forma livre e com ética, e uma opinião deve levar a discussão, o que não era usual naquela época pós-ditadura, por isso o estranhamento e a sensação errônea de estarmos sendo direcionados.
Mas não serei só críticas a Maquiavel, e devo dizer que considero alguns de seus pensamentos bastante factíveis, resultante de um raciocínio lógico o qual sempre procuro me balizar, pois tudo tem seus dois lados. Encerro com mais esse pensamento que devemos buscar aprender com Maquiavel e suas obras:
"Se ensinei aos príncipes de que modo se estabelece a tirania, ao mesmo tempo mostrarei ao povo os meios para dela se defender".
Esplêndida crítica literária e social. Debora, ainda bem que você está se permitindo despertar para a literatura. Que os teus vôos verbais alcem cada vez mais estratosferas: nós, os teus leitores, nos sentimos voando seguros nas tuas asas tipográficas!!!
ResponderExcluirParabéns!!
Beijos,
Mad