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sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Que década senhores, que década...




Renova-te.


Renasce em ti mesmo.
Multiplica os teus olhos, para verem mais.
Multiplica os teus braços para semeares tudo.
Destrói os olhos que tiverem visto.
Cria outros, para as visões novas.
Destrói os braços que tiverem semeado,
Para se esquecerem de colher.
Sê sempre o mesmo.
Sempre outro. Mas sempre alto.
Sempre longe.
E dentro de tudo.


Cecília Meireles



Habitualmente, e desde sempre, faço eu em minha mente a retrospectiva de meu ano e minhas metas para o ano novo. Desta vez com um enorme significado pois estamos fechando mais uma década, então, nada mais natural que pontuar os avanços e mudanças ao longo destes 10 rápidos anos, e porque não, as metas para a terceira década deste que é, o terceiro milênio.

Minha mente se reporta então ao final do século XX e toda angústia e aflição que tivemos com a possibilidade do “Bug do milênio”, totalmente infundado e vazio, porém nos mostrando nossa habilidade para o pânico coletivo em assuntos que não dominamos, enquanto vemos outros que deveriam, ai sim, causar verdadeira histeria, passarem ao largo sem nos darmos conta.

Sim, pois o propagado Bug não ocorreu, mas vimos uma verdadeira explosão de novos modos e costumes, que alteraram de forma impactante nossas vidas e valores. Muitas coisas viraram do avesso, mas, certamente hoje entendemos que o avesso acabou sendo a melhor forma em muitas coisas. Foi a virada do século!

Agora, já nesta década que se finda, o avesso virou e desvirou tantas vezes que não cabe mais dizer que exista o lado certo. Acabei por concluir que minhas certezas se tornaram incertezas e minhas incertezas continuam incertas. De certo, ah! E isso é certo mesmo, é que estamos aqui nestas paragens terrestres unicamente para evoluir de alguma forma, e continuei então a buscar como e de que forma. Como progresso pessoal, aprendi que não há uma forma única para tal, e para mim, particularmente, a única forma é o autoconhecimento cada vez mais profundo.

Sempre acreditei nisso, mas especificamente no decorrer deste período, concluí ser necessário retirar a viseira do certo e arriscar mais pelo incerto, ou seja, continuo acreditando no poder superior que nos rege, mas hoje creio que ele pode se apresentar de muitas formas, circunstâncias, crenças e rituais. Um destino pode ter muitos caminhos, que podem ir mudando, e isso não é um problema, cada qual tem a liberdade de escolher seu caminho, e mudar no percurso, se assim quiser. Afinal, se todos os caminhos levam ao mesmo destino...

Entro nesta nova década bem diferente do que há dez anos. Aliás, praticamente em quase tudo. Posso pontuar a mudança da perspectiva em relação ao futuro. Havia em mim, aos quarenta e poucos anos uma certeza do que queria e alcançaria seguindo a vida como estava levando, Risos... mais risos e gargalhadas... mas a vida não perdoa quem se acomoda, e como no mar revolto, foi onda atrás de onda.
Algumas me derrubaram, outras bateram bem forte, muitas me lavaram a alma, e caminhando cheguei ao rasinho, mais forte e mais lúcida.  

Então espero que quando o mar voltar a ficar revolto, e certamente ele ficará, eu sinta menos os impactos das ondas, justamente por ter agora a certeza de que não há como programar nada, pois nada está em nossas mãos. E aceitar esta impotência é o que transforma a vida. Posso sim, claro, ter planos e objetivos, mas nada de certezas e obstinações.  Não me cabe mais. Agora é só gratidão!

Neste final da década, tenho meditado, orado e recitado mantras para o espírito, exercitado o corpo, trabalhado a mente e estudado cada vez mais. Tudo o que aprendo só me confronta com tudo que ainda não sei, e me faz estudar mais, para estar cada vez mais ciente que tudo está se movimentando, mostrando o quão pouco eu sei.

Sinto muito, 
             Me perdoe,
                        Te amo,
                                 Sou grato!  
                                            
                                                Ho' oponopono 


Feliz 2020!