A arte de fazer planos.
Acordei naquele dia com o barulho da chuva na minha janela, meu humor já começava nublado e instável, já que o outono se fazia presente e as manhãs ensolaradas e encaloradas, que eu tanto gosto, só voltariam na primavera.
Meu marido já havia saído para o trabalho, e eu, agora aposentada, desfrutava do ócio tão almejado, mas que estava começando a incomodar. Havia decidido que voltaria a me ocupar com alguma coisa, afinal, trabalhando desde muito nova, não estava conseguindo me acostumar com esse estado de férias permanente, e o mau humor dos tempos de trabalho voltava cada dia um pouco mais.
Meu filho estava na escola e, adolescente de dezessete anos, estava ocupado com sua vida, trilhando seu destino profissional. Minha missão agora era acompanhar a distância, orientando de longe e deixando suas descobertas acontecerem por ele próprio.
...Nem ao menos caminhar na praia estou podendo ir, pensei ainda mais irritada.
Quando trabalhava comandava a casa de longe com muita disciplina, e tudo corria muito bem; supermercado pela internet, orientações à empregada pelo telefone, tudo muito organizado, casa sempre arrumada e abastecida. O filho já andava com as próprias pernas e com uma rotina tão corrida, que eu nem conseguia acompanhar. Portanto, oito meses após a aposentadoria, com cinqüenta e dois anos, cheguei ao ponto de não ter o que fazer.
Que ironia! Busquei isso nos últimos dez anos com voracidade e agora, como várias pessoas me avisaram, já estou cansada. Estou aqui, tomando meu café da manhã calmamente, pensando o que fazer deste dia de hoje, com saudade dos telefones tocando, das pessoas ao meu redor falando, da falta de tempo para mim. Eis a chave do problema. Quando não se tem tempo não se pensa, e a vida vai passando rapidamente sem questionamentos e atitudes. Agora tenho tempo de pensar, não há como fugir, a pergunta martelando na minha cabeça: O que você vai fazer com sua vida?
Não posso reclamar do meu marido, é um companheiro há vinte e dois anos que me apóia em todos os momentos da minha vida. Alcançou seu sucesso profissional e nem pensa em parar aquilo que foi tão custoso e trabalhoso de conseguir, sua carreira. Para mim as coisas foram mais amenas, sempre pude estudar e só não consegui maiores conquistas por opção própria de priorizar a vida familiar à carreira. Portanto era claro que assim que pudesse, pararia de fazer o que sempre foi tão penoso, deixar minha casa e o filho distantes para trabalhar.
Qualquer rotina é desgastante, e assim, já cansada dessa minha nova rotina decidi então dar rumo a um novo sonho: voltar a estudar!
A carreira já estava escolhida há muito tempo, escondida pela falta de tempo e oportunidade. Voltar a estudar, conhecer gente nova e jovem, aulas, provas, trabalhos, professores. Um novo entusiasmo me invadiu.
Depois de comunicar o fato a família, que sempre me apóia nas minhas decisões, iniciei um novo curso de graduação.
A felicidade, a paz e a sensação de plenitude que já conquistei é muito grande. Todos os dias ao acordar, agora mais disposta mesmo nos dias de chuva, traduz a alegria de viver e me sentir útil, sempre buscando novos sonhos e conquistas.
Antes que a rotina me invada novamente, já tenho uma nova meta. Sim, agora já com tarimba na arte de fazer planos, desejo me tornar professora antes de completar sessenta anos, e antes que seja tarde, compartilhar as experiências desta minha vida para quem estiver disposto a me ouvir.
Com certeza terá muitas pessoas dispostas a ouvir alguém com tanto conhecimento. Este é um pequeno passo que está dando para uma futura realização dos seus sonhos que trará satisfação pessoal, além de ajudar o próximo.
ResponderExcluirIsto aqui já virou novela não percam o próximo capítulo.