Ao longo dos anos, os vários colegas que passaram pela repartição deixaram lembranças, até que eu mesma fui embora, deixando velhos e novos colegas naquele lugar onde vivi anos muito bons.
Lembro-me de que os fumantes fumegavam livremente em suas mesas, deixando incomodados muitos colegas, quando veio a proibição de se fumar dentro da repartição, obrigando então a criação de um lugar específico que chamávamos de “fumódromo”.
Nada mais era que um banco grande, no canto do quintal, onde se reuniam todos os fumantes e também vários não fumantes (inclusive eu!). Lá todos tomavam um café, conversavam, riam, riam mais um pouquinho e também fumavam. Alguns freqüentavam o espaço com mais assiduidade, já que a dependência do cigarro falava bem alto, outros até diminuíram o cigarro, e haviam aqueles que mesmo sem fumar compareciam para um papinho. O nosso fumódromo era um lugar muito divertido que logo passou a se chamar “fofocódromo”.
Recordo-me também que já não estávamos na casa adaptada e sim em um novo endereço que merecerá uma descrição mais detalhada brevemente.
O fumante mais inveterado da repartição era o colega que chamarei de Nelson Augusto, que subia e descia ao fumódromo várias vezes por dia, ou seja, quase sempre estava lá. Os colegas iam e vinham e Nelson Augusto continuava lá no banco com seu cigarro. Até que um dia Nelson Augusto desceu com seu cigarro e um jornal, que não conseguiu ler, pois sempre chegava alguém para interrompê-lo.
Nesta época havia um programa de humor na televisão chamado “A Praça é Nossa”, onde vários esquetes se passavam em um banco de praça, em que o dono do programa tentava ler um jornal e sempre era interrompido pelos personagens, que passavam por lá para importuná-lo. E assim nosso fumódromo evoluiu, tornando-se um programa de humor, já que toda vez que eu passava pelo local, lá estava Nelson Augusto fumando e ouvindo alguma história dos personagens que desfilavam durante todo o dia. As histórias que surgiam desses momentos eram deliciosas, e todos riam muito comparando o programa humorístico com nosso dia a dia. Devo dizer que não foram poucas as vezes que nosso “programa” era bem mais engraçado que o original, pois Nelson Augusto com seu humor mordaz fazia muito bem seu papel, fazendo graça de tudo e de todos, sempre com seu inseparável cigarro.
O único que não apreciava nosso “programa” era o chefe de então, que desde o início da sua gestão quis imprimir um tom austero a repartição, o que não combinava de forma alguma com aquela população de pessoas que sempre foi, a despeito de qualquer coisa, de bem com a vida.
Depois de o nosso programa ter saído do ar, já que muitos personagens foram transferidos ou demitidos, incluindo o ator principal, Nelson Augusto, ele deve ter ficado satisfeito, mas nós levaremos sempre na lembrança os dias felizes e ensolarados que vivemos.
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