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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Como nossos pais...




Quando eu ouvia a música “Como nossos pais” de Belchior, nos anos de minha adolescência e juventude, tentava entender aquela mensagem, mas tinha certeza que a cantaria nos anos da maturidade. Intuição que me persegue... Graças a Deus!

Pois é, a maturidade chegou, o mundo é outro, mas canto essa música com a atualidade de sua mensagem, mesmo que hoje as indagações dos jovens sejam outras, e eles próprios sequer conheçam essa canção, nem o autor.

Nova postura, nova polemica, nova sociedade. Nova sociedade? Será?

Naquela época pedíamos por liberdade, mas para tê-la, precisávamos ser independentes, o que era muito custoso e dependia de privações e sacrifícios. Mas a minha geração conquistou isso, e prometeu que não deixaria que os filhos passassem pelo mesmo problema. Daríamos a liberdade, para que eles  pudessem alçar seu voo tranquilamente, sem todo aquele sacrifício de estudar a noite, trabalhar o dia todo, submeter-nos as ordens dos pais, a repressão paterna e tantas e tantas proibições. Sem contar que demos uma infância mais livre, sem tantas proibições para que pudessem expressar livremente seus pensamentos e os discutissem sem problemas conosco. Nossas proibições, quando existiam, eram com argumentos embasados.

Hoje pergunto: Isso foi suficiente? Resolveu o problema que nós tivemos? Eles entenderam isso? Ou somos os novos repressores?

Resolveu aquele problema, criou outros, e assim a música fica atual, porque nos vemos forçados a ser como nossos pais, e a juventude, por outros motivos não se interessa pela nossa experiência, assim como não nos interessava a de nossos pais.

Vejo hoje, os amigos transgressores de ontem, desestruturados, filhos desgarrados e amorais (que é muito pior do que ser imoral). E aqueles que acataram as ordens paternas e buscaram ser independentes com todo o sacrifício que se exigia, estão melhores na sua maioria, estruturados, porém com dificuldades em gerir essa geração de hoje, que é individualista ao extremo. Voltados para o seu mundo particular, com o conforto que nós mesmos proporcionamos.

A liberdade empenhada nos trouxe jovens perdidos em seus conflitos, já que tudo pode e tudo é possível ser ou fazer. Essa angústia é válida? O que era melhor? Isso é evolução? O tempo dirá...

É o lamento de alguém que olha o mundo atual com medo, medo do que possa ser novo no futuro próximo, do que será novidade amanhã, quais gagets serão inventados com o propósito de aproximar as pessoas e num paradoxo as afastar cada vez mais dos seus próximos.

E com esse medo acabo me transformando num ser “como nossos pais”, tentando retroceder um pouco.



Não quero lhe falar,
Meu grande amor,
Das coisas que aprendi
Nos discos...
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa...
Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado prá nós
Que somos jovens...
Para abraçar seu irmão
E beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço,
O seu lábio e a sua voz...
Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantada
Como uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
Cheiro de nova estação
Eu sinto tudo na ferida viva
Do meu coração...
Já faz tempo
Eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Essa lembrança
É o quadro que dói mais...
Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais...
Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer
Que eu tô por fora
Ou então
Que eu tô inventando...
Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem...
Hoje eu sei
Que quem me deu a idéia
De uma nova consciência
E juventude
Tá em casa
Guardado por Deus
Contando vil metal...
Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo,
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais...

Belchior

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