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segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Cores da vida


Aquele parecia ser mais um dia tedioso, daqueles que ao acordar, viramos para o lado e perguntamos a nós mesmos se não podemos ficar na cama.

Já no banheiro, Stella começava a enumerar os diversos afazeres do dia: Ir para o trabalho; agendar seus exames médicos; buscar o filho na escola; supermercado... De certo mesmo, só a correria, já que não conseguia um minuto para si. No trânsito relaxava, ouvia música e pensava naquilo que poderia ter feito e no que poderia fazer para tornar a rotina mais agradável, e nos mais ou menos cinquenta minutos de deslocamento de casa ao trabalho, traçava metas que tentava cumprir com determinação, porém, muitas dependiam de um pouco de sorte... A vida seguia em preto e branco.

Já tinha lido vários livros de autoajuda na tentativa de clarear a mente e se conhecer melhor. Não que acreditasse que lhe ajudariam, mas achava que o autoconhecimento lhe fortificaria o caráter e a vontade, mas tudo ficava na teoria.

Nesses devaneios diários, dirigia mecanicamente no caótico trânsito. Até que um dia, desses de chuva, numa distração, o carro bateu violentamente contra o guard-rail. Uma batida nem tão grave, mas que deslocou o pescoço violentamente e a imobilizou na hora com uma dor de cabeça lancinante.

Essas pancadas que a vida dá, muitas vezes literais, para nos fazer parar e pensar nela...

Sem poder se mexer, após ser socorrida, soube estar com uma lesão cervical que lhe deixaria imobilizada por um tempo. Imaginou que se sobrevivesse  ela mesma iria escrever um novo livro de autoajuda...

Hora de trabalhar em causa própria.

No começo veio a revolta e o desanimo, depois, inteligentemente concluiu que tudo continuava a andar como sempre, de outra forma, mas andando. Decidiu então olhar para dentro de si e acordou.

Ah! Essa rotina do dia a dia que nos afasta de nós mesmos, quantos não perdem a vida por isso. Sorte daquele que no fundo do poço acha uma mola, e pula de volta pra vida...

Assim foi para Stella, achou sua pequena mola no fundo e ainda sem saber como, completamente imóvel fisicamente, sacudiu sua alma e pulou até achar a luz.

Neste trajeto percebeu que não se importava mais com algumas coisas antes tão importantes. Alguns fatos que sempre fizeram tanto sentido passaram a não significar mais nada. As compras, a casa, o carro, as viagens... Em contrapartida outras tão abstratas passaram a ter todo o sentido. A fé, a vontade, o amor, a amizade, um cheiro, um gosto, um olhar.

Do teto branco do seu quarto de hospital, começava a enxergar várias cores nunca percebidas quando vivia no meio do arco-íris. Agora o tempo fez parada do seu lado, dando a chance de localizar perfeitamente onde esta a tal mola... Ia perder essa chance?

Mudanças bruscas na rotina de quem nunca quis sair dela é difícil, mas para Stella foi mais fácil do que ela imaginava. Ela que sempre foi avessa a mudanças teve que enxergar nisso a oportunidade de viver, e fez essa opção. Ao optar pela vida, facilitou tudo.

E não é que em meio aos dolorosos tratamentos, cirurgias, fisioterapias e medicações, está mais serena? Encontrou dentro de si mesma uma força esquecida. Essa determinação a deixou  mais calma, e porque não dizer; mais feliz...

Uma nova rotina se estabeleceu, mas entendeu que não durará para sempre e não sofre mais por isso. Em um paradoxo conseguiu sentir que a inconstância da vida nos deixa mais firmes para desfrutá-la.

Em meio a sua estrada entendeu que a felicidade é o caminho e não o destino. Ainda em sua cadeira de rodas, indo para mais um dia de fisioterapia, enxerga todas as cores do caminho. Espera poder andar novamente, continua lutando para isso, mas se não conseguir, não vai mais perder o colorido da vida. Enxergar em preto e branco? Nunca mais.

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