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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Mulheres de Hoje - Conto 4


Aliança


Nara caminhava calmamente pela rua quando parou diante daquela vitrine. Lá estava o objeto de seu desejo mais secreto exposto em destaque, a aliança de brilhantes da famosa joalheria.

Imediatamente as lembranças vieram-lhe a cabeça, e recordou de quando era adolescente e sonhava com aquela aliança. Achava que era só encontrar o príncipe, pois a aliança viria embutida no pacote. Seria o símbolo do amor correspondido dado por ele.

Mais adulta percebeu que não seria qualquer príncipe que lhe daria a tão sonhada aliança, e com os pés fincados na realidade abstraiu seu desejo material, atendo-se aos valores verdadeiramente importantes para eleger aquele que seria o seu companheiro, pois nesta altura não acreditava mais em príncipes.

Um pouco mais madura, com o olhar voltado para a família formada, reconheceu seu valor, se orgulhou de seus feitos, errou em outros tantos, e mais fortalecida reparou que as escolhas foram corretas, que a paz e felicidade foram conquistadas. Mas a aliança continuava na vitrine da famosa joalheria.

Com seu habitual conformismo, olhou para a vitrine e ponderou que a aliança não lhe fez falta, e que talvez até pudesse ter em suas mãos uma idêntica, mas teria de ter mudado algumas opções, não deveria ter cometido alguns erros, poderia ter exigido a prova adolescente do amor verdadeiro.

Mas o que teria mudado?

Continuou a ver as vitrines pois não conseguiu a resposta, e talvez nunca a tenha.

Tal qual a aliança que teima em  permanecer na vitrine...

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Pensar... é preciso


"Pensamentos são como gotas d'água. Se eu penso nas mesmas coisas o tempo todo, estou criando uma imensa massa de água. Se meus pensamentos são negativos, posso me afogar no mar da minha própria negatividade. Se são positivos, posso flutuar no oceano da vida."
Louise Hay

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Diário de Catarina - escritório - colegas III



Ao longo dos anos, os vários colegas que passaram pela repartição deixaram lembranças, até que eu mesma fui embora, deixando velhos e novos colegas naquele lugar onde vivi anos muito bons.

Lembro-me de que os fumantes fumegavam livremente em suas mesas, deixando incomodados muitos colegas, quando veio a proibição de se fumar dentro da repartição, obrigando então a criação de um lugar específico que chamávamos de “fumódromo”.

Nada mais era que um banco grande, no canto do quintal, onde se reuniam todos os fumantes e também vários não fumantes (inclusive eu!). Lá todos tomavam um café, conversavam, riam, riam mais um pouquinho e também fumavam. Alguns freqüentavam o espaço com mais assiduidade, já que a dependência do cigarro falava bem alto, outros até diminuíram o cigarro, e haviam aqueles que mesmo sem fumar compareciam para um papinho. O nosso fumódromo era um lugar muito divertido que logo passou a se chamar “fofocódromo”.

Recordo-me também que já não estávamos na casa adaptada e sim em um novo endereço que merecerá uma descrição mais detalhada brevemente.

O fumante mais inveterado da repartição era o colega que chamarei de Nelson Augusto, que subia e descia ao fumódromo várias vezes por dia, ou seja, quase sempre estava lá. Os colegas iam e vinham e Nelson Augusto continuava lá no banco com seu cigarro. Até que um dia Nelson Augusto desceu com seu cigarro e um jornal, que não conseguiu ler, pois sempre chegava alguém para interrompê-lo.

Nesta época havia um programa de humor na televisão chamado “A Praça é Nossa”, onde vários esquetes se passavam em um banco de praça, em que o dono do programa tentava ler um jornal e sempre era interrompido pelos personagens, que passavam por lá para importuná-lo. E assim nosso fumódromo evoluiu, tornando-se um programa de humor, já que toda vez que eu passava pelo local, lá estava Nelson Augusto fumando e ouvindo alguma história dos personagens que desfilavam durante todo o dia. As histórias que surgiam desses momentos eram deliciosas, e todos riam muito comparando o programa humorístico com nosso dia a dia. Devo dizer que não foram poucas as vezes que nosso “programa” era bem mais engraçado que o original, pois Nelson Augusto com seu humor mordaz fazia muito bem seu papel, fazendo graça de tudo e de todos, sempre com seu inseparável cigarro. 

O único que não apreciava nosso “programa” era o chefe de então, que desde o início da sua gestão quis imprimir um tom austero a repartição, o que não combinava de forma alguma com aquela população de pessoas que sempre foi, a despeito de qualquer coisa, de bem com a vida.

Depois de o nosso programa ter saído do ar, já que muitos personagens foram transferidos ou demitidos, incluindo o ator principal, Nelson Augusto, ele deve ter ficado satisfeito, mas nós levaremos sempre na lembrança os dias felizes e ensolarados que vivemos.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Diário de Catarina - escritório - Colegas II




Bom dia Catarina!

E mais um dia começava naqueles muitos dias de minha vida na repartição.

A vida ali era diferente, eu que havia trabalhado na sede da empresa com mais de dois mil funcionários, passei a trabalhar em uma repartição com pouco mais de cinqüenta pessoas, em uma casa adaptada.

Minha vida havia mudado muito, estava com minha filha de seis meses, transferida para mais perto de minha casa, era um período de adaptações em tudo, na vida e no trabalho.


Apesar de atender ao público externo, que não nos deixa seguir uma rotina pré-estabelecida de trabalho, os dias eram quase sempre iguais.

Chegava à minha sala, e se já não houvesse alguém do público externo para receber, me dirigia à sala anexa bater um papinho com as colegas, que serão chamadas de Sofia e Solange, e tomar um café (tínhamos uma cafeteira própria!). Lá tratávamos de tudo: capítulo da novela anterior (com direito a análises sócio-culturais), o cardápio do jantar (com direito a receita), reclamações do marido, filhos, família, chefe e etc. (com direito a conselhos), moda, viagens, notícias e fofocas da empresa. Um ambiente de muita descontração com muitas risadas, que nos fez dispensar muitas vezes, anos de terapia. Quando uma de nós não chegava bem por algum motivo particular, após discorrermos sobre todos esses assuntos já ficávamos refeitas para enfrentar o dia de trabalho.

Passamos a andar sempre juntas e ganhamos vários apelidos dos outros funcionários: Mimi, Cocó e Ranheta; as irmãs Cajazeiras, as meninas super-poderosas e por aí vai.

A hora do almoço deveria ser um capítulo a parte, trabalhávamos próximo de um centro comercial e fatalmente, após almoçarmos, dávamos uma voltinha para ver as vitrines. Sempre, eu disse sempre, uma de nós voltava com uma sacola: uma blusa, um baton, um sapato, outro sapato, uma sandália, roupa para o filho, um descascador de camarão, uma tigela, um enfeite e etc. Logo cedo já nos programávamos:  “Hoje tenho que ir lá no centro comercial na hora do almoço ver/comprar .........”. Acho que nunca compramos tantas roupas e sapatos como naquela época, sempre com o apoio das outras duas que, por não querer gastar sozinha, convencia a outra de como aquilo era imprescindível, como a roupa tinha caído bem, como o sapato era lindo e assim por diante.

Veja como mulher se protege para as compras, quando o horário extrapolava muito, uma voltava para repartição enquanto as outras continuavam na loja (uma comprando e a outra dando suporte).

Criamos vários bordões dignos de fazer parte de programas humorísticos, alguns copiamos da televisão, outros foram criados na nossa realidade,  vou contar cada um deles e suas explicações de acordo com as situações. Em relação aos atrasos falávamos o seguinte:

“Fica aí que eu volto e seguro tudo, tudo, tudo amigaaaa”  ou
“ Vai lá que eu  fico e seguro tudo, tudo, tudo amigaaaa”.

Assim mesmo, três vezes o “tudo” e o amiga com a sílaba tônica no “a” final.

No começo ríamos muito com nossos bordões, depois aquilo se incorporava de tal forma ao nosso vocabulário que falávamos naturalmente não nos causando mais impacto, porém, quando soltávamos algum deles para outras pessoas, estas nos olhavam espantadas, tentando entender o que queríamos falar, incluindo nossos maridos.

A vida no serviço público por vezes é muito difícil, temos que conviver com muitas injustiças e tudo é muito moroso para se resolver, mas sabíamos nos abstrair desse clima pesado e criar uma atmosfera descontraída e feliz, a despeito dos problemas que pudéssemos estar passando. Nossa convivência era praticamente restrita ao escritório, cada qual tinha uma vida completamente diferente uma da outra, somos três personalidades completamente diferentes, e talvez por isso nossa convivência tenha sido tão enriquecedora e tenha dado tão certo por um longo período, sem brigas, com muitas risadas e companheirismo.

Hoje cada uma de nós trabalha em uma repartição diferente, mas sempre nos lembraremos da nossa convivência como se fosse um casamento muito feliz, mas que acabou porque a vida de cada uma foi mudando, novos personagens se incluíram nessa convivência. O golpe final e certeiro que selou nosso divórcio foi a transferência de cada uma para outros escritórios, encerrando um ciclo que nos trouxe muita alegria e evolução pessoal e que ficará na saudade.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Cecília Meireles





Renova-te.

Renasce em ti mesmo.
Multiplica os teus olhos, para verem mais.
Multiplica os teus braços para semeares tudo.
Destrói os olhos que tiverem visto.
Cria outros, para as visões novas.
Destrói os braços que tiverem semeado,
Para se esquecerem de colher.
Sê sempre o mesmo.
Sempre outro. Mas sempre alto.
Sempre longe.
E dentro de tudo.

Cecília Meireles

Diário de Catarina - Escritório - Colegas

COLEGAS



Muitas são as histórias a contar dos muitos colegas que passaram pela repartição. Algumas engraçadas, outras dramáticas, algumas emocionantes e poucas tristes a ponto de não nos permitir alguma graça, felizmente.

Como se tratam de histórias verídicas e recentes, sinto-me acanhada de relatar muitas delas, facilmente reconhecíveis pelos protagonistas, mas, como não expor  algumas pérolas de nossa convivência? E devo me reportar logo no início de minha estada.

É fato que quando da minha chegada, a seção já era antiga, com funcionários de anos trabalhando lá, por isso o meu desconforto inicial, que foi logo superado, já que não me falta audácia para piadinhas com desconhecidos.

Trabalhava em uma sala sozinha, já que atendia ao público externo (alvo de um próximo capitulo), mas muito falante que sou quase nunca parava em minha sala, pois adoro bater um papinho, e na sala anexa trabalhavam duas colegas, tão falantes quanto eu. Nessa ocasião ficava nesta sala um senhor, responsável pelo trabalho com o único computador da seção, pois não havia computadores pessoais para todos os funcionários como hoje.

Vamos chamá-lo de Nestor, um senhor muito quieto, completamente diferente de nós, três malucas falantes, que passávamos o dia falando bobagens e rindo. Não podemos esquecer que isso ocorreu na época daquele chefe que pouco produzia, já comentado.

Nestor vivia calado no computador, ouvia, ouvia e ouvia, por vezes ria, ficava com o rosto vermelho e dava sua opinião. Quando alguma de nós, sempre muito “antenada” com as fofocas do momento, fazia algum comentário acerca de qualquer assunto, ele dava seu palpite, sempre contrário ou desacreditando das nossas conclusões, com seu ar meio rabugento.

Aquela sala era o centro das conversas, próxima do quintal (sim, era uma casa!), longe do chefe, e com nosso parceiro Nestor e seu computador.  Muitas vezes falavámos alguma coisa de propósito, sabíamos que ele não ia concordar e esperávamos sua reação pouco amistosa.


Até que uma vez, numa costumeira discussão com minha amiga, ele perdeu a calma, e depois de muita argumentação de ambas as partes ele levantou, e com o rosto muito vermelho bradou aos gritos: Por que? Por que? Por que?  Com os braços erguidos e gesticulando muito.


Ela parou, olhou para cada uma de nós assustada pela reação, e imediatamente para quebrar o gelo e acalma-lo levantou e gritou respondendo: Porque sim! Porque sim! Porque sim! Imitando-lhe os gestos.

E tudo acabou em gargalhada. Nem preciso dizer que até hoje quando uma de nós não entende alguma coisa, seja lá o que for, pára e grita: Por quê? Por quê? Por quê? E caímos na risada, e quem está perto pensa que somos loucas, e somos mesmo...

A estadia dele nesta sala não durou muito tempo, logo foram chegando os computadores e o layout da seção foi modificado, e o nosso querido Nestor mudou de sala. Por muito tempo encontrávamos com ele e falávamos: Saudade Nestor, volta pra sala!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Maquiavel, sempre atual...

"A natureza criou o homem de tal modo que ele pode desejar tudo sem poder obter tudo". Maquiavel





Procurei me abster de textos que pudessem invocar a pensamentos políticos, porém o atual momento me fez lembrar de minhas aulas de filosofia com minha professora Sônia nos idos de 1980.

Estudante de colégio feminino, de freiras, achava que nos era ensinada a Filosofia de forma a atender sempre aos ditames religiosos das quais éramos criadas, ou seja, o pensamento não era livre como deveria.

Lembro-me de que quando estudei a obra de Maquiavel, em especial “O Príncipe”,  esta foi  duramente criticada pela professora, já que a máxima “O fim justifica os meios” ia contra a temática religiosa que nos era ensinada.

Simpatizei então com Maquiavel e seu raciocínio lógico, e apesar de achar realmente que não é por qualquer meio que possa alcançar os fins, por vezes julguei isso justo na obtenção de alguns propósitos para que se concluíssem determinadas ações.

Pensamento torpe, arraigado na população de modo geral, que vê seus políticos como príncipes que tirarão seus problemas maquiavelicamente, ou seja, sem se importar com a ética e a honestidade.

Passamos por um momento que precisa nos remeter à reflexão. Reflexão daquilo que queremos de forma mais complexa, não somente a índices e estatísticas satisfatórias, esta ou aquela ação e sim atitudes que denotem franqueza e humildade. O retorno do ser humano aquilo que é o seu propósito, o da solidariedade.

Em “O Príncipe”, hoje tão atual, temos uma ideologia política que se apresenta como criação de uma fantasia concreta, que atua sobre um povo disperso e aniquilado para despertar e organizar a sua vontade coletiva. Em todo o livro, Maquiavel mostra como deve ser o Príncipe para levar um povo à fundação do novo Estado, e o desenvolvimento é conduzido com rigor lógico. Na conclusão, o próprio Maquiavel faz-se povo, confunde-se com o povo, mas não com o povo real, mas  o povo que Maquiavel convenceu ser o existente e sente-se identificado, ou seja, parece que tudo é uma reflexão do povo, um raciocínio interior que se manifesta na consciência popular e acaba num grito apaixonado, imediato. A paixão, de raciocínio sobre si mesma, transformando-se em entusiasmo momentâneo, fanatismo.

Enfim, muitos dos políticos de hoje, mesmo aqueles não tão letrados, baseiam-se nesta obra de Maquiavel, e buscam para si o modelo do Príncipe, a fim de transformar o povo para a forma que melhor lhe convier.

Disse Ghandhi: “Temos que ser a mudança que queremos ver”, e assim chego à conclusão que minha professora Sônia não foi tão tendenciosa às vontades do colégio religioso, nem tampouco o pensamento livre nos era tolhido. A vontade era de nos ver pensando de forma livre e com ética, e uma opinião deve levar a discussão, o que não era usual naquela época pós-ditadura, por isso o estranhamento e a sensação errônea de estarmos sendo direcionados. 

Mas não serei só críticas a Maquiavel, e devo dizer que considero alguns de seus pensamentos bastante factíveis, resultante de um raciocínio lógico o qual sempre procuro me balizar, pois tudo tem seus dois lados. Encerro com mais esse pensamento que devemos buscar aprender com Maquiavel e suas obras:

"Se ensinei aos príncipes de que modo se estabelece a tirania, ao mesmo tempo mostrarei ao povo os meios para dela se defender".

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Diário de Catarina - Escritório - O chefe


O Chefe



Meu nome é Catarina e trabalho em uma empresa do governo. Sim, sou funcionária pública há vinte anos, e posso contar episódios interessantes desse tempo todo de convívio nas esferas das empresas governamentais.

Sei bem o que esse título desperta nas pessoas. Todos acham que não trabalho muito e a maioria me inveja pela minha estabilidade, porém, outros me desprezam por esse mesmo motivo. A vida de um funcionário público é puro paradoxo, alguns que trabalham demais para fazer a máquina funcionar e também para permitir que outros não façam nada.

Certa vez mudei de unidade, e no meu primeiro dia aguardava na recepção meu novo chefe. Cada um que chegava me cumprimentava timidamente com cara de poucos amigos, desconfiados por saber quem era essa funcionária que conseguiu se transferir. Provavelmente protegida de algum político.

Percebi primeiramente que os horários não eram respeitados, diferentemente da outra unidade em que eu trabalhava em que o chefe chegava cedo e controlava o horário de todos. Fui recebida por ele já meio da manhã, e muito contrariado me colocou em uma sala junto com outra funcionária que me ensinaria o novo serviço. Muito tempo depois vim a descobrir que já era detestada por ela porque o tal chefe me passou o serviço que era dela sem ao menos avisá-la.

Esse meu novo chefe era digno de um capítulo só dele. Cumprimentava todas as manhãs, sala por sala, todos os funcionários, e aqueles que ele gostava (não era o meu caso) eram agraciados com uma análise de seu mapa astral. Essas análises duravam praticamente toda a manhã. Se você precisasse falar com ele algum assunto, tinha que se preparar para ouvir suas intermináveis histórias de algum fato que ele viveu, e provavelmente voltar para sala com o problema sem solução, já que essas estórias nunca se referiam ao problema por nós apresentado. Chegamos a conclusão depois que na verdade ele não sabia resolver nada.

Quando chamados por ele por algum motivo de trabalho, nunca se saía da sua sala em menos de uma hora e se o chamado fosse próximo do final do expediente nos despedíamos antecipadamente dizendo "até amanhã" às gargalhadas.

Mais um paradoxo do serviço público, ao mesmo tempo em que você se irrita diariamente pela falta de soluções rápidas para os problemas existentes, o ambiente normalmente é bem descontraído, e a aura de injustiça reinante nós une e praticamente nos transforma em humoristas, gozando uns aos outros e a nós mesmos.

Assim passavam-se as semanas; atrasos, mapa astral, conversas longas e o serviço parado na mesa dele como água de chuva parada na barragem de rio, prestes a se romper. Passamos a trabalhar em um ritmo mais lento, a secretária se desesperava, nós cada vez mais ociosos e tudo se avolumava na mesa dele, que não se abatia. Achava que tudo merecia uma análise minuciosa e agora, analisando bem, acredito que ele esperava alguma mensagem do astral para solucionar as questões, mesmo as mais banais.

Considero uma sorte ele não gostar de mim, por que assim era ignorada, que nesse caso era ótimo. Mas sei de histórias de alguns infelizes que passavam horas escutando as estórias contadas por ele, com o serviço por fazer em suas mesas.

Ele costumava trabalhar nos fins de semana, já que não dava conta de resolver as coisas de segunda a sexta com a casa cheia. Nestas ocasiões foi flagrado diversas vezes por alguns funcionários trajando somente uma sunga, pois estava na praia e após, passava no escritório para trabalhar. Também usava um insensor para afastar as energias negativas e atrair bons fluidos para o trabalho, e nos enchia de mensagens de otimismo e votos de prosperidade. Trabalhar que é bom...

Essa aura mística que ele tentava aplicar no escritório era cômica, nem os programas de humor da época tinham personagem mais caricato. Em uma ocasião ficou trancado com a secretária na sala passando-lhe energias positivas porque achou que ela estava muito carregada, passávamos pela janela e a víamos praticamente debruçada na mesa, certamente farta daquela situação.

Certa vez, tinha uma reunião com importante empresário da região e por isso veio de paletó e gravata, porém com a calça de um agasalho esportivo. Justificou dizendo que ia ficar sentado e a calça não seria vista.

Risos e mais risos e novo paradoxo, foi a época que o escritório menos funcionou, choviam reclamações de todos os lugares, inúmeras cobranças, trabalho acumulado, mas todos os dias tínhamos motivos para rir a valer, e como rimos nessa época.

Não preciso dizer que ele se transformou em uma unanimidade por todos. Mesmo aqueles que se beneficiaram com promoções na sua gestão, não agüentavam mais aquela inépcia que prejudicava todo o escritório e suscitava cobranças de todos os lados.

Durou pouco. Em menos de um ano tiraram-lhe o cargo por conta das inúmeras reclamações, o que lhe causou uma enorme comoção, logo se aposentou com direito a lágrimas e discurso de despedida. Nem preciso dizer que a maioria fingia emoção, gargalhando por dentro durante o discurso, e houve até quem passou mal por conta das risadas, levando nosso chefe a achar que era tristeza pela sua queda.

Continuou nos assombrando por um bom tempo, fazendo-nos visitas e presenteando alguns que desafortunadamente tinham sua simpatia.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Comer, Rezar, Amar

Ainda não li este livro, mas vou recomendar porque assiti ao filme, e partindo da premissa que os livros são sempre melhores e gostei do filme...

A história é muito legal,  as  biografias sempre me interessam e esta não poderia ser mais leve.  As crises vividas pela protagonista são puramente existenciais já que não há impedimento financeiro que a impeça  de buscar pelo mundo suas respostas, coisa absolutamente impeditiva para a maioria de nós brasileiros.  Li muitas criticas negativas, outras positivas, mas que o filme é  legal e bem feito é!(só achei a fotografia um pouco escura. Alguém concorda?). O que as criticas todas concordam é que quando se tem dinheiro para viajar um ano para se descobrir, é difícil não ser feliz.(invejinha...)

A Itália... As paisagens... As experiências são muito boas e se transformam em um ótimo entretenimento, sorte dela que pôde fazer tudo isso e transformou essa experiência em um livro que pode ter ajudado muita gente.

Segue resenha do livro que pretendo ler. Leiam, assistam o filme e opinem!




"Elizabeth Gilbert estava com quase trinta anos e tinha tudo o que qualquer mulher poderia querer: um marido apaixonado, uma casa espaçosa que acabara de comprar, o projeto de ter filhos e uma carreira de sucesso. Mas em vez de sentir-se feliz e realizada, sentia-se confusa, triste e em pânico.
Enfrentou um divórcio, uma depressão debilitante e outro amor fracassado. Até que decidiu tomar uma decisão radical: livrou-se de todos os bens materiais, demitiu-se do emprego, e partiu para uma viagem de um ano pelo mundo – sozinha.  O objetivo de Gilbert era visitar três lugares onde pudesse examinar aspectos de sua própria natureza, tendo como cenário uma cultura que, tradicionalmente, fosse especialista em cada um deles. "Assim, quis explorar a arte do prazer na Itália, a arte da devoção na Índia, e, na Indonésia, a arte de equilibrar as duas coisas", explica."

sábado, 9 de outubro de 2010

A arte de correr na chuva

Quem me conhece sabe que adoro cães e sofri uma perda recente de meu cãozinho Raj, um fofo pug, aos dez meses. Passada a dor latente, hoje temos um lindo shihtzu, o queridinho Zorro, de sete meses. Resolvi estudar muito sobre cães desde a enfermidade do Raj, aprendi muito sobre doenças caninas e também o porquê de suas vidinhas serem tão curtas. Sua fidelidade, lealdade e amor comove até os mais endurecidos e li toda sorte de livros sobre a matéria como: "Marley e eu" (chorei muito), "Todos os cães merecem o céu" (temática espírita), e por último este que estou recomendando abaixo, porque é antes de tudo uma lição de vida para quem gosta ou não de cães.

Abaixo a resenha deste livro muito fofo:

A arte de correr na chuva
Garth Stein

Enzo é um terrier que vive em Seattle com o dono, Denny Swift, um piloto de corridas. Amigos inseparáveis, Enzo acompanha toda a trajetória de vida de Denny, desde sua luta para se tornar um piloto profissional bem-sucedido até seu encontro com Eve, o enlace de ambos e o nascimento da filha do casal.

Frustrado por não poder falar, uma vez que não é humano, Enzo costuma acompanhar todas as corridas de Fórmula 1 pela tevê, bem como tudo o que se passa a sua volta, até o dia em que uma fatalidade muda definitivamente a vida de todos.

Enzo é um cão com alma humana, que aprendeu tudo o que sabe assistindo aos programas de televisão e prestando atenção às palavras e ações de seu dono. É crítico, tem a postura típica de quem sabe o que quer e enxerga os problemas com muita clareza. E, além disso, tem uma missão essencial: ajudar Denny a superar as tragédias que assolaram sua vida.

Como todo fiel escudeiro, Enzo é obstinado, mas não insensível ao mundo que o rodeia. Sofre com a dor dos humanos com os quais convive, e com a sua própria, decorrente de problemas de saúde que foram comprometendo sua integridade física. Apesar de tudo, guarda no íntimo um grande desejo: nascer humano em uma próxima encarnação.

Se você sempre quis saber o que se passa na cabeça de seu cão, este romance comovente e inesquecível de Garth Stein oferece a resposta.

“Este livro aborda a importância das experiências provenientes do nosso aprendizado diário. A importância de se doar, de acreditar em um ideal.
Que cada leitor se identifique com algum ponto desta história e que não perca nunca a vontade de aprender e voar cada vez mais alto.”