Páginas

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Clarisse Lispector

ADORO CLARISSE!!!


Sonhe com aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que se quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes
não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor
das oportunidades que aparecem
em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passam por suas vidas.

O futuro mais brilhante
é baseado num passado intensamente vivido.
Você só terá sucesso na vida
quando perdoar os erros
e as decepções do passado.

A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar
duram uma eternidade.
A vida não é de se brincar
porque um belo dia se morre.

Mulheres de Hoje - Conto 3


Independência ou sorte.

Em uma dessas noites em que se tenta dormir mais não se consegue, relembro todas as vezes que tentei emplacar um novo relacionamento e não consegui. Graças a uma enorme incapacidade de integrar uma pessoa dentro da minha intimidade, continuava ano após ano na solidão noturna, sem ter com quem dividir minhas angustias.

Fui criada com um senso de independência tão grande que me era impossível dividir a vida com alguém. Desta última vez, encerrei um relacionamento de quatro anos quando me vi pressionada a assumir de maneira plena nosso romance. Não que eu não me envolvesse, mas era muito difícil aceitar alguém para quem eu tivesse que dar satisfação de onde vou, como gastar, o que usar, e outras tantas coisas que me remetiam a submissão que eu vi por tantos anos, com tantas mulheres na minha família, inclusive minha mãe.

Nesses últimos quatro anos, nosso relacionamento era muito bom; divertido, maduro, correto, leal... Mas eu não conseguia entregar por completo. Por mais que estivesse apaixonada, e por que não dizer amando, sempre decidia minhas coisas sozinhas, sem consultar ninguém, nem ele, motivo de desentendimentos diversos durante todo esse tempo. No final, voltei a ser sozinha de verdade. Era a quarta vez que isso acontecia e já imaginava estar fadada a viver só.

Na minha cama, na madrugada, choro tentando entender o porquê.

Já fazia uma semana desde o término, e embora aliviada com o fim das inúmeras satisfações, sofria com a falta que ele me fazia, pura e simplesmente. Novamente minha rotina solitária se instalava, e meu celular não tocava mais como de costume nos horários marcados, para um simples oi, um carinho ou algum recado.

Viver nesse conflito não fazia mais sentido. O tempo vivido e as experiências me impelem a decidir de que lado quero estar.

Hoje, aos trinta e cinco anos, tenho várias amigas, algumas já casadas e felizes, com filhos ou querendo ter, e outras solteiras e tranquilas, vivendo em paz com a condição escolhida. Somente eu, vivendo esse dilema entre a independência e o companheirismo. E a vida me dando mais uma chance com uma pessoa bacana, e eu sentindo que desta vez uma falta enorme de tudo.

Já havia amado outras vezes, mas nunca a sensação de estar perdendo algo precioso havia ficado tão latente. Onde quero chegar? A idéia de dividir minha vida me causava o medo de me perder de mim e, ao mesmo tempo, o tempo passando e eu sempre só.

Busquei na memória várias conversas que tive com várias mulheres, e o conflito persistia porque não conseguia entender uma questão matemática. Enquanto eu relutava em dividir a vida, todas tentaram me explicar que se tratava de optar em somar.

Três horas e quinze minutos de uma noite que não acaba, está na hora de acender uma luz na escuridão. Rompendo uma enorme barreira, antes instransponível, pego no telefone e ligo. Uma voz sonolenta e assustada me atende, e me surpreendo falando:

- Oi! Sou eu. Preciso de você na minha vida. Não desista de mim.

Antes mesmo da resposta já estou em paz! O medo só pode ser superado por nós mesmos. Temos que ser a mudança que queremos ver. A resposta veio firme, com uma pergunta:
- Você tem certeza?

- Sim. Quero você aqui comigo.

Somar, dividir, subtrair e multiplicar, desta vez vou aprender as quatro operações definitivamente.

Mulheres de hoje - Conto 2



A arte de fazer planos.

Acordei naquele dia com o barulho da chuva na minha janela, meu humor já começava nublado e instável, já que o outono se fazia presente e as manhãs ensolaradas e encaloradas, que eu tanto gosto, só voltariam na primavera.

Meu marido já havia saído para o trabalho, e eu, agora aposentada, desfrutava do ócio tão almejado, mas que estava começando a incomodar. Havia decidido que voltaria a me ocupar com alguma coisa, afinal, trabalhando desde muito nova, não estava conseguindo me acostumar com esse estado de férias permanente, e o mau humor dos tempos de trabalho voltava cada dia um pouco mais.

Meu filho estava na escola e, adolescente de dezessete anos, estava ocupado com sua vida, trilhando seu destino profissional. Minha missão agora era acompanhar a distância, orientando de longe e deixando suas descobertas acontecerem por ele próprio.

...Nem ao menos caminhar na praia estou podendo ir, pensei ainda mais irritada.

Quando trabalhava comandava a casa de longe com muita disciplina, e tudo corria muito bem; supermercado pela internet, orientações à empregada pelo telefone, tudo muito organizado, casa sempre arrumada e abastecida. O filho já andava com as próprias pernas e com uma rotina tão corrida, que eu nem conseguia acompanhar. Portanto, oito meses após a aposentadoria, com cinqüenta e dois anos, cheguei ao ponto de não ter o que fazer.

Que ironia! Busquei isso nos últimos dez anos com voracidade e agora, como várias pessoas me avisaram, já estou cansada. Estou aqui, tomando meu café da manhã calmamente, pensando o que fazer deste dia de hoje, com saudade dos telefones tocando, das pessoas ao meu redor falando, da falta de tempo para mim. Eis a chave do problema. Quando não se tem tempo não se pensa, e a vida vai passando rapidamente sem questionamentos e atitudes. Agora tenho tempo de pensar, não há como fugir, a pergunta martelando na minha cabeça: O que você vai fazer com sua vida?

Não posso reclamar do meu marido, é um companheiro há vinte e dois anos que me apóia em todos os momentos da minha vida. Alcançou seu sucesso profissional e nem pensa em parar aquilo que foi tão custoso e trabalhoso de conseguir, sua carreira. Para mim as coisas foram mais amenas, sempre pude estudar e só não consegui maiores conquistas por opção própria de priorizar a vida familiar à carreira. Portanto era claro que assim que pudesse, pararia de fazer o que sempre foi tão penoso, deixar minha casa e o filho distantes para trabalhar.

Qualquer rotina é desgastante, e assim, já cansada dessa minha nova rotina decidi então dar rumo a um novo sonho: voltar a estudar!

A carreira já estava escolhida há muito tempo, escondida pela falta de tempo e oportunidade. Voltar a estudar, conhecer gente nova e jovem, aulas, provas, trabalhos, professores. Um novo entusiasmo me invadiu.

Depois de comunicar o fato a família, que sempre me apóia nas minhas decisões, iniciei um novo curso de graduação.

A felicidade, a paz e a sensação de plenitude que já conquistei é muito grande. Todos os dias ao acordar, agora mais disposta mesmo nos dias de chuva, traduz a alegria de viver e me sentir útil, sempre buscando novos sonhos e conquistas.

Antes que a rotina me invada novamente, já tenho uma nova meta. Sim, agora já com tarimba na arte de fazer planos, desejo me tornar professora antes de completar sessenta anos, e antes que seja tarde, compartilhar as experiências desta minha vida para quem estiver disposto a me ouvir.

Mulheres de Hoje - Conto 1


Renascer
Estava sendo muito difícil sobreviver nos últimos tempos. Não sabia se as insatisfações recentes, que substituíram as antigas incertezas, eram responsáveis por tanta infelicidade. Mesmo assim consegui iniciar uma reforma íntima que me possibilitou uma grande mudança.

Acordei naquele dia, como em tantos outros, com vontade de continuar dormindo e não ir trabalhar, mas também o que fazer se não fosse para o escritório passar o tempo? Levantei-me e após um banho rápido fui para cozinha e tomei um iogurte como de praxe, me troquei rapidamente e saí, deixando toda a arrumação da casa para minha mãe. Ao menos uma vantagem de morar com a mãe nessa altura da minha vida, os trabalhos domésticos, que sempre detestei, não faziam parte da minha rotina.

Quarenta e nove anos, solteira, arquiteta, e paramos por aí, não avancei em mais nada. Sem casamentos, sem filhos, sem viagens maravilhosas, sem vida...

Chegando ao escritório reiniciei a análise de um projeto de reforma de uma casa cujo dono era amigo do meu chefe, ou seja, mais cuidado ainda. Ganhava bem, algumas comissões que engordavam minha poupança, mas não conseguia fazer aquilo que almejava na faculdade.

Minha vida financeira era estável, bom salário, nenhum gasto que fizesse mexer no dinheiro do banco. Morando com minha mãe no apartamento dela, os gastos eram somente os frugais, as roupas eram comuns, sem muitos adereços, não tinha o hábito de sair, salvo um cinema com minha prima ou minha mãe, e uma pizza um fim de semana ou outro. Fazia questão de não engordar porque minha mãe era bem gordinha e via o drama que isso gerou sua vida inteira.

Tinha poucos amigos no trabalho, todos pareciam confortáveis em suas vidas em família, e eu só, morando com minha mãe. Sentindo-me deslocada nesse meio, tinha amizade somente com uma colega que, divorciada, morava com a filha e se preocupava tão somente em arrumar outro companheiro. Nossa amizade resumia-se em uma tentar convencer a outra que estava certa. Ela tentava me convencer a aproveitar a vida, gastar meu dinheiro, viajar e conhecer pessoas, e eu por minha vez, tentava convence-la a ficar mais em casa e guardar mais dinheiro, pois tinha uma filha ainda pequena, que precisava da mãe.

Conversava-mos no café sobre a saída que ela teve na noite anterior. Mais uma balada em que conheceu mais um homem, mais uma noite cheia de aventuras. E eu, fiquei assistindo mais um filme repetido na televisão. Iniciamos uma leve discussão, de minha parte eu falava sobre a loucura de sair cada dia com uma pessoa diferente, enquanto ela perguntava se eu ia passar o resto da vida guardando dinheiro e assistindo filmes velhos na televisão, me disse que eu era motivo de risos no escritório com essa minha vida inerte.

No fundo senti uma enorme inveja daquela vida cheia de acontecimentos. Ela tinha uma vida difícil, criava a filha sozinha desde que o marido a deixou, o salário não era tão bom quanto o meu, com inúmeros problemas que movimentavam sua vida, causando inclusive alguns problemas de saúde, e eu morrendo de inveja, com essa minha vida tão “boa”, “estável”, “comportada”.

Conclui, só nessa hora, que algo estava errado. Era preciso fazer alguma coisa para deixar de ser a chata do escritório, motivo de risos em todos os escalões. Quanta vergonha e tristeza senti, que vontade de sumir de mim mesma. Comecei a lembrar das noites iguais, anos e anos vendo TV, contando calorias, dormindo, jogando baralho com minha mãe, escutando as lamúrias de minha prima sobre seu casamento e sua vida vazia. Sempre espectadora, assistindo minha vida passar sem sentir.

Pedi licença ao chefe, que espantado me deu o dia para resolver meu suposto problema particular. No banheiro antes de ir, pensei: Por onde começar essa mudança?

Não tinha nenhuma amiga para confiar, não queria falar com nenhum conhecido, na verdade não queria falar com ninguém. Esses anos todos me transformaram em um estereótipo de mulher bem sucedida, mas esse sucesso não estava dentro de mim.

Na verdade não queria uma transformação muito extrema, afinal minha auto estima estava abalada, mas já havia existido, e esse bem querer de mim mesma fazia com que eu almejasse somente agitar minha vida de forma a torná-la mais produtiva.

Busquei aquela jovem destemida e independente, vaidosa, e principalmente vibrante. Passo a passo reformei meu íntimo de modo que às transformações passassem despercebidas de início e, quando notadas não causassem nada além de uma grata surpresa a todos os conhecidos, colegas, amigos e familiares.

Mais bonita e cuidada, passei a desfrutar de alguns prazeres antes deixados de lado, e até mesmo saí algumas vezes com aquela colega.
Não foi tão simples. Essa mudança, que foi fruto de um mergulho dentro de mim mesma, causou cicatrizes profundas dentro de mim, mas que me fazem lembrar sempre de não me deixar incorrer novamente nessa armadilha da acomodação.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

escrever é preciso...

Sempre gostei de escrever.

Por ser uma leitora voraz desde que me alfabetizei, escrever se tornou obrigatório, como se precisasse gastar todas aquelas letras que havia engolido.

Já escrevi muito, desde sempre, e joguei muitos escritos fora... que pena. Seria muito bom reler e me redescobrir naqueles anseios de ontem.

Desde que recomecei a escrever, não jogo mais nada fora, e na impossibilidade momentânea de publicar meus textos, vou apresenta-los aqui para mim e quem mais quiser ler.

Muito prazer!